Autora – Dr Ana Nuno

Uma pequena ilha remota e pouco conhecida situada no Golfo da Guiné, ao largo da costa da África Central, Príncipe (São Tomé e Príncipe) e a sua população dependem fortemente da pesca artesanal. Quando as comunidades piscatórias da ilha nos dizem que têm de viajar mais longe, passar mais tempo no mar e aumentar a quantidade de equipamento de pesca para obter quantidades semelhantes de peixe que costumavam capturar perto da costa há alguns anos, isto soa muito familiar. Estes problemas são sentidos em muitas zonas costeiras por todo o mundo e podem ser particularmente graves em pequenos estados insulares em desenvolvimento, onde os recursos para a gestão são escassos e as pessoas geralmente têm acesso limitado a outras oportunidades.

Uma comunidade piscatória no Príncipe / Dário Pequeno Paraíso

As comunidades piscatórias são cruciais na abordagem de questões de conservação em todo o mundo. A participação das partes interessadas e a co-gestão das pescas têm sido reconhecidas como abordagens-chave, particularmente quando a execução é um desafio devido à capacidade limitada do Estado. Mas como podemos promover ações individuais e apoiar medidas que melhorem os ecossistemas marinhos? Alguns poderão dizer que precisamos de empoderar as partes interessadas. O empoderamento tornou-se um conceito popular em conservação mas, embora bem intencionado, é muitas vezes utilizado como uma palavra da moda com alegações pouco claras. Como podemos avançar para além desta palavra da moda em conservação?

comerciantes de peixe e pescadores a puxar um barco / Dário Pequeno Paraíso

Centrando-se na conservação marinha e pesca artesanal no Príncipe, o nosso novo artigo científico publicado na revista Conservation Letters identifica os principais determinantes do empoderamento psicológico para a conservação e explora as possíveis implicações para a gestão de recursos. Feito como parte de um projeto financiado pela Darwin Initiative e em parceria com a Fundação Príncipe (uma ONG baseada na ilha), esta investigação incorporou discussões de grupos focais e questionários a agregados familiares (869 pessoas entrevistadas numa ilha com cerca de 8000 residentes!). Recolhemos informações sobre, por exemplo, características individuais e do agregado familiar; utilização de recursos naturais; perceções sobre possíveis intervenções; e múltiplos componentes de empoderamento (por exemplo, governação, liberdade de escolha & ação, participação, controlo e colaboração).

Questionários no Príncipe / Litoney Matos

Constatámos que era mais provável as pessoas acreditarem que poderiam pessoalmente fazer uma diferença na proteção do ambiente marinho na ilha se também: sentissem que a aplicação das leis pelo estado estava a desempenhar um papel ativo, tinham níveis mais elevados de liberdade de escolha e ação individual, e acreditavam que as suas comunidades poderiam, coletivamente, melhorar os resultados. Os entrevistados que responderam “não sei” sobre a atual condição do ambiente marinho na ilha foram menos propensos a acreditar que poderiam fazer a diferença do que aqueles que acreditaram que as condições do ambiente marinho permaneceram as mesmas, piores ou melhores do que antes.

Considerando potenciais intervenções, as pessoas que consideram ter níveis mais elevados de influência sobre a conservação marinha eram as mais propensas a recomendar medidas específicas (por exemplo, criação de áreas de pesca interdita). Isto sugere ligações entre empoderamento e a aceitação social de potenciais intervenções específicas.

Porque é que isto importa? O envolvimento em projetos de conservação pode ser influenciado pela crença nas capacidades individuais para alcançar a mudança. Havendo agora um novo projecto na ilha liderado pela FFI e destinado a estabelecer a primeira rede de áreas marinhas protegidas no país, esta informação é crucial para compreender como envolver significativamente as comunidades locais e outras partes interessadas. Isto é essencial para identificar visões comuns e trabalhar em colaboração para as alcançar. Como esta investigação demonstra, isto pode exigir a abordagem de várias questões diferentes mas que andam de mãos dadas (por exemplo, acesso a oportunidades, sensibilização sobre as condições dos ecossistemas marinhos e reforço da aplicação da lei), para que as pessoas acreditem que a sua contribuição pode realmente fazer a diferença. Embora o envolvimento e a participação sejam definitivamente necessários, são essenciais as condições adequadas para que estes deem frutos.

Se quiser saber mais informações sobre este projeto em Príncipe, consulte o nosso website e veja o nosso vídeo para dar um passeio por esta ilha fantástica!